Chaplin sabia que ao se tornar diretor e assumir o processo de edição, estaria definitivamente ganhando controle sobre o personagem, podendo agora ampliar seu registro cômico.
Como um cineasta completo e versátil, concentrou-se na dinâmica física de Carlitos. Cada movimento encontrava um novo escopo, metamorfoseando-se em coreografia, e quanto mais errática a trajetória, mais precisamente regulada sua mecânica. Uma perseguição, uma tímida contorção, um passo bêbado ou um pas de deux em um clinch de boxe: a colocação do corpo de Carlitos em movimento pautava-se por todo um vocabulário expressivo, manifestando toda uma gama de sentimentos. Nessa pantomina profundamente elaborada, o corpo em movimento "fala".
Ao introduzir elementos de um mundo surreal à existência cotidiana de Carlitos, Chaplin testaria ainda a exploração de possibilidades narrativas nas mais improváveis situações. A retórica do sonho desempenha importante papel aqui, libertando Carlitos das restrições impostas pela realidade, na medida em que desencadeia o potencial do mise en scène. O resultado, porém, é sempre um despertar doloroso. Os sonhos representam uma incursão no domínio privado de Carlitos, o palco para a sua autorrealização, o transgredir de sua verdadeira condição.
(texto "Chaplin como cineasta", em cartaz na exposição*)
De 07 de março a 29 de abril
Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica
Rio de Janeiro / 2012